
Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado,
Num casebre de bambú na minha esteira deitado,
A fumar um narguilé até que passe a monção,
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção.
Sei que tenho de partir, logo que suba a maré,
Mas até ela subir volto a encher o narguilé,
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro!
Não me quero ir embora, diga que foi ao meu enterro
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva a cair,
Que ainda estou acordado, só tenho a alma a dormir,
Como a folha de bambú a deslizar na corrente,
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente.
Nos arrozais morre a chuva, noutra água há-de nascer,
Abatam-me ao efectivo, também eu me vou sem morrer
Para quê ter de partir logo que passe a monção,
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão
Ópio, bendito ópio, minhas feridas mitiguei!
Meu bálsamo para a dor de ser, em ti me embalsamei!
Ópio, maldito ópio, foi para isto que cheguei,
Uma pausa no caminho, numa névoa me tornei.
Carlos Tê/Rui Veloso
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